segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um dia no cemitério

É muito difícil viver o dia-a-dia do cemitério

Tento passar uma noção do que acontece através das fotos. Mas quem não está lá, na luta diária, não tem idéia do que passamos. Costumo omitir as piores partes do que vejo porque não quero afastar as pessoas do blog

O sofrimento e a impotência sempre acompanham quem decide fazer alguma coisa por eles. Principalmente porque não conseguimos ajuda para todos

Recentemente, a Carla me encontrou no facebook e quis conhecer os gatinhos. Ela foi comigo ao cemitério algumas vezes e, agora, voltou lá sozinha

Então pedi a ela que fizesse um relato dessa experiência. Abaixo, as palavras da Carla:

"Demorei um pouco para escrever este post porque precisava encontrar as palavras certas para transmitir as impressões de um dia difícil

Eu e as duas protetoras que alimentam os gatos no cemitério começamos o dia cedo

Debaixo de um sol escaldante, tínhamos uma missão importante: capturar o papai peludo. Um gato extremamente arisco que quase nunca vemos. Ele está machucado e é brigão

Também queríamos encontrar uma solução, mesmo que temporária, para a gatinha que teve cria dentro de uma sepultura e seus filhotes que estão com uma forte infecção

Nem preciso dizer que a falta de habilidade das tias novatas com a gatoeira (nessa hora a Patricia faz falta... ela é praticamente uma felina, parece que lê o pensamento deles hehee) aliada a um gato arisco determinou o fracasso da operação papai peludo. Ficamos eu e a Miriam com cara de bobas, mas não desistimos, apenas adiamos

Resolvemos então concentrar nossas forças na gatinha e seus filhotinhos da sepultura

O Sol, cada vez mais forte, batia diretamente na sepultura de concreto e de lá saía um cheiro forte e desagradável

Ali ficam, de acordo com a Dona Alzira, 4 filhotinhos e sua mamãe. Vimos 3 deles mas conseguimos retirar da cova apenas 2

Eles estão com infecção nos olhos e dificuldade para respirar. Limpamos os olhinhos, alimentamos, eles comeram bastante. Imagino o calor insuportável daquele lugar onde estão

Continuamos a alimentar os outros gatos do cemitério, sempre conversando sobre a melhor solução para os gatinhos da sepultura

Após alimentar o restante dos gatos, nos sentamos cansadas debaixo de uma árvore, bem na entrada do cemitério

Vimos quando entrou uma pessoa com 1 filhote novíssimo, acho que 1 mês de vida. Ficamos paralisadas, boa coisa não era

Fomos em direção à pessoa com a maior naturalidade do mundo mas por dentro tremíamos por aquela vida

Falamos que era lindo, perguntamos o nome, tentamos alimentá-lo. A pessoa parecia atormentada, estava cada vez mais óbvio que precisávamos salvar aquele gatinho

O rapaz, num gesto rápido e brusco, tomou o gatinho das mãos da Miriam e correu para o interior do cemitério. No meio do caminho, o gatinho despenca do colo e cai com a coluna no chão

Parecíamos 3 loucas gritando e correndo atrás dele

Os funcionários do cemitério perceberam e nos ajudaram. Encontramos o gatinho debaixo daquele sol forte, muito assustado. Ele tinha cordas amarradas em seu pescoço e estava muito sujo

 Rapidamente o levei até a Dra F para prestar os primeiros cuidados


Saindo da Veterinária, nem pude respirar. Vi a Miriam numa rua próxima à clínica, dentro de um local pequeno, abafado, cheio de lixo e terra

Ali dentro estavam 2 gatos jovens e lindos (ficamos sabendo que eram 3 mas 1 deles morreu atropelado e ficou agonizando na calçada, sem socorro)


Estavámos alimentando os gatinhos quando surge um homem gritando e nos ameaçando. Disse que invadimos sua propriedade e que iria matar os gatos. Tive que tirá-los dali rapidamente antes que o clima ficasse pior

Não pude deixar na Veterinária porque não tinha mais vagas

Muito frustrada por não ter onde deixá-los, a tristeza tomou conta. E eles, tranquilamente, quase dormiam no colo

Sem opção, tentamos deixá-los temporariamente num terreno baldio. Mas era em frente ao assassino de gatos, não era boa ideia

Então resolvemos, infelizmente, deixá-los no cemitério

Domingo de manhã voltei lá com o mesmo calor africano!!!!

Eles estavam onde os deixamos. Um deles, o machinho, parece que apanhou de algum gato. Ele é muito amoroso, pede carinho toda hora, quer dormir encostado, vive agradando a irmãzinha, eles amam brincar

Alimentei e deixei bastante água em diversos potinhos

Saí de lá escondida e de coração partido pois me seguiam chorando..."


4 comentários:

Eliane.P disse...

Olha, cada vez mais me assusto com o ser humano. Acho que as pessoas andam tão malucas que elas descontam naqueles que não podem devolver a agressão - os animais. O antropocentrismo é tão grande, que o homem só olha para o seu umbigo e não enxerga os animais como seus companheiros, seus semelhantes. É muito triste.

Anônimo disse...

Gostaria de fazer algum comentário, mas apenas consigo chorar. Chorar de pena desses animais indefesos que só pedem um carinho.
Kathia

Joana ❥Victor disse...

Isso é verdade mas o ser humano não mostra só a sua crueldade para com os animais ele o faz mesmo para seu semelhante, pessoas assim nós deixam triste e sem animo... mas como sabemos que não somos os únicos que nos preocupamos com quem mais precisa isso nos dá a força para continuar fazendo o bem não é ! :)

Livia Luzete disse...

Nossa,não tem como não chorar!!!! E pensar que aqui em Fortaleza/Ce logo nós do Vakinha Permanente vamos começar essa empreitada, de castrar gatos de rua e dar a assistência aos animais de colonias. Haja coração!!! Mas não vou desistir. Força aí!!!!